quarta-feira, fevereiro 21

Cada um tem seu próprio deserto.

Essa semana uma amiga minha me marcou falando que gostaria de ter minha disciplina... Imagine só... Eu tendo disciplina, a pessoa que foi de longe uma das alunas mais medíocres do colégio devido àquela coisa insuportável chamada matemática (Exatas de um modo geral) e fiquei pensando nessa vida louca que é Concurseiro/Oabeiro.

Não é nada fácil, entendem, quero dizer, é uma coisa meio maluca você raciocinar que geralmente, você está por pelo menos 4 horas direto em frente a um computador assistindo aulas, resolvendo exercícios, fazendo resumos, mapas mentais... Você aprende A SUA forma para organizar seus estudos e seu material. Aprende coisas novas sobre gramatura de papel e percebe que 90 é um número que você sonha (Além de ter um canto para passar esses momentos, com canetinhas e marcas textos e canetas...) Essa é a parte divertida da coisa.

Você passa a seguir pessoas com a mesma rotina que você, conhece autores novos, fica amiga dos professores e percebe que eles te respeitam pelo que você está fazendo por você mesmo e mais, torcem para que você consiga o que tanto almeja. É muito bom saber que existem pessoas que torcem pela gente. Eu que sou recente aprovada na OAB sei o quanto isso foi importante para mim. E você passa a torcer por aquelas pessoas que dia a dia estão ali, na mesma batalha que você, principalmente na OAB que não existe concorrência. Essa parte é muito legal. É como o Rony disse em Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban “Você vai sofrer, mas vai ficar feliz com isso”.

E por falar em sofrer, não pensem que essa vida é um mar de rosas. Não, você está constantemente duvidando de você. Sempre acha que não estudou o suficiente, se magoa com pessoas que dizem para você desistir ou que você “não faz mais nada na vida a não ser estudar”, é meus amigos, não é fácil.

Não é fácil você sentir que está ficando para trás quando vê amigos passando antes de você, e não é inveja, se há algo que a gente aprende quando entramos nesse caminho, é que não dá nem tempo de você pensar em saber o que é inveja, pois tem uma pilha de exercícios de Constitucional, administrativo ou raciocínio lógico para resolver. Que tem uma penca de aulas que ainda não assistiu devido as tribulações da vida. Vida essa que não para esperando que você consiga o que você quer.

Quantas vezes você tem que ir ao supermercado achando que está perdendo tempo com coisas triviais como comprar comida para a família ou ter que dar atenção à tarefa do filho, enquanto a cara do seu professor de Informática está parada na tela do seu computador esperando que você termine tais tarefas? Sim, algumas pessoas têm a sorte de ter um marido, irmãos, e até mesmo filhos para fazer isso por elas, mas e quando é você quem tem que fazer tais coisas? Entenderam?

E mesmo quem não tem tais responsabilidades, ainda assim não é fácil, sempre tem as contas para pagar, afinal de contas, sem internet ou luz você não consegue estudar. E isso, porque ainda nem falei sobre os “amigos”.

Por que coloquei aspas na palavra? Simples, é nessa vida que você realmente vê quem sempre e quem nunca. Quando parei com as desculpas – Ah claro, ainda tem isso, as desculpas que você dá para você mesmo quando está ainda tentando encontrar seu caminho – e realmente comecei a estudar, muitas pessoas, e eu realmente estou falando de MUITAS PESSOAS simplesmente ou não acreditavam em mim ou resolveram se afastar porque “eu estava obcecada com estudo e a OAB” ou então porque “eu estava dando desculpas de que tinha que estudar para não sair” ou que “eu estava trocando a pessoa pelo estudo”, acreditem... Eu escutei todas essas frases e muitas mais, até mesmo “não sei como tu se achas tão inteligente se nem na oab consegue passar”. Por mais que eu soubesse que essas palavras não eram verdade, magoa entende? Quando você está nessa vida tudo que você menos precisa é de cobranças, pois isso você já faz. E a cobrança própria é o pior tipo que existe.

Mas também houveram aquelas pessoas (explicitamente ou implicitamente) que sempre torceram por você. Sabem, é gratificante você receber uma mensagem no seu inbox de uma pessoa que você nutre um carinho enorme da época em que trabalhavam juntas dizendo: caramba, quando eu soube que havia saído a lista fui atrás do teu nome, teu nome é esse tal não é? – Gente, vocês não sabem o quanto isso nos dá alegria. Além daquelas que você sabe que estavam distantes para que você pudesse estudar, mas que quando souberam do seu sucesso falam com você ainda chorando de felicidade... E não é uma felicidade delas e sim, elas estão chorando por você, por ver o quanto você lutou e o quanto você sacrificou para conseguir o que tanto deseja.

Sim, porque se sacrifica muita coisa. Sacrifica família, sacrifica amigos, sacrifica amores, sacrifica a você mesmo, pois sabe que o tempo que está gastando no salão de beleza (Não é isso meninas?) Você poderia estar batendo mais um assunto de Direito Tributário, por exemplo. Essa é a parte ruim, porque você é humano, você sente e sempre sentirá necessidade de estar com seus amigos, com alguém especial, mas que precisa abrir mão disso para que possa conseguir a posse naquele concurso que tanto sonha.

Então, para quem ainda está em dúvida, eu digo, saibam que a estrada, melhor dizendo o deserto que você está entrando não é fácil. Muitas vezes pessoas que você ama não vão entender a sua dedicação, muitas vezes você não vai entender e vai querer que essas mesmas pessoas te entendam e vai ficar com raiva de ver que seus amigos saíram para ver aquele filme daquele ator que você tanto ama e não te chamaram, vai ficar chateada que eles estão se divertindo sem você, mas deixa eu falar uma coisa: É O SEU DESERTO, você não pode querer que eles o enfrentem junto com você, pode sim, querer consideração, quando num sábado a noite você troca a balada por vídeo aulas ou no domingo você troque o churrasco de família por simulados. Compreensão você pode querer, não que eles parem a vida deles apenas porque você parou a sua.

E eu vou dizer uma coisa: se eles te amarem de verdade, eles não só vão entender isso como vão tentar fazer com que o seu deserto seja menos exaustivo. E melhor ainda, eles vão confiar em você, mais do que você mesmo, e vão estar ao seu lado quando você chegar no topo do mundo e saber que venceu sabendo que a escalada não só te fortaleceu, mas te ajudou a saber quem realmente te ama.

E depois de tudo isso, você vai olhar para trás, vai ver a sua vida, antes e agora, e vai falar: É... Valeu a pena cada lágrima derramada.

Vanessa Carvalho

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